Existem, principalmente no período de férias escolares, vários cursos ou festivais de música no Brasil.
Esses cursos são uma excelente oportunidade para os estudantes terem aulas e fazer contatos com grandes professores de seus instrumentos, estreitar amizades com colegas de todo Brasil e exterior (hoje mesmo eu trabalho na orquestra com vários colegas dessa época dos cursos), tocar em orquestras, assistir a palestras, workshops e memoráveis concertos.
Participei de vários cursos, onde tive o privilégio de ter aulas com mestres que são fundamentais para minha formação musical e flautística: Celso Woltzenlogel, Pauxy Nunes, Maurício Freire, Norton Morozowicz, Odette Ernest Dias e outros.
Nesse texto, gostaria de falar um pouco sobre a professora Odette. Francesa, radicada no Brasil a convite do Maestro Eleazar de Carvalho para integrar a Orquestra Sinfônica Brasileira, é responsável pela formação de vários flautistas. Encantou-se pela música brasileira, contribuindo com uma extensa pesquisa sobre repertório e gravações, além de exímia intérprete do chorinho.

Durante nosso contato nesses cursos, pude me admirar com várias qualidades da professora: generosa, acolhedora, humana; dotada de conhecimentos não só musicais, artista. A visão que eu tenho sobre seus ensinamentos, abordados através de um discurso simples embora com particular profundidade de conteúdo, me revelam seu respeito à identidade musical de cada aluno, assim como o respeito pela música que levaríamos ao público, independente da condição em que faríamos: tocávamos em agências bancárias, calçadões e salas de concerto.
Os concertos dos festivais de Juiz de Fora eram memoráveis. Ali, tínhamos a oportunidade de assistir grandes músicos na arte da execução autêntica da música barroca (músicos que vinham da Europa com instrumentos de época, algo raro para minha realidade), além dos artistas brasileiros, como o excelente quarteto de cordas de Brasília.
Porém a situação que presenciei em uma apresentação da professora Odette, me marcou profundamente: quando ela terminou de executar uma peça solo, um homem, extrapolando os protocolos formais que envolvem uma apresentação de música clássica, deu um grito: “A senhora é um pássaro!” Aquilo foi extremamente comovente e encantador.
Ela olhou para ele, sorriu e agradeceu. Continuou o concerto e todos nós tivemos a sensação de experimentar algo único, indescritível, mágico. Situação que a música e uma artista com a sensibilidade da professora Odette permitiram acontecer.
Pouco antes da pandemia, participei, com a professora Elvira Gomes do lançamento do nosso CD “Sarau” em Diamantina, durante o encontro “Flautas Gerais”.
Além da sempre prazerosa companhia da amiga Elvira, tive a oportunidade de levar minha mãe para conhecer a maravilhosa cidade histórica. Isso por si só já fez valer a viagem.
Mas o encontro, organizado pelo amigo Evandro Archanjo, prestava uma homenagem à professora Odette, que tem laços importantes com a cidade.
No encerramento desse encontro, houve um momento absolutamente mágico: Alguns flautistas tocaram o lindo “Choro para Odette”, composto pelo amigo Marcelo Chiaretti (que acompanha ao violão), enquanto Evandro a buscou para dançar.
Tivemos a sensação de estarmos vivenciando uma situação atemporal, onde flutuávamos juntos com essa dama da música.
Assim como a arte da Odette transcende o instrumento flauta transversal, nesse momento a música transcendeu o sentido de ser apenas uma manifestação sonora. Odette não é somente um pássaro…






















Resposta de 0
Muito bonita a sua homenagem, Alexandre! Um grande abraço para você, esperando nos vermos um dia!
Linda e merecida homenagem de nosso conterrâneo Alexandre Braga, de quem não se poderia esperar menos, faz ao anjo Odete Ernest Dias. Que maravilhoso registro esta música que além de demonstrar todo domínio do instrumento, revela um sopro limpo e claro como um diamante. Parabéns Odete, parabéns Alexandre.