Pessoal, gostaria de convidá-los para o primeiro concerto do ano da Orquestra Filarmônica de Varginha: será no próximo domingo, dia 23, às 10h30, no Teatro Capitólio. Concerto no qual terei a alegria de participar, como flautista.
Entre as obras que serão apresentadas pela orquestra, gostaria de destacar uma em particular e compartilhar um pouco sobre a “história” dela.
Frequentemente tenho escrito, aqui no blog, sobre a ação da música em nosso emocional: música que pode acalmar, agitar, nos fazer refletir. Como diria Roland de Cande, “a música encerra os segredos da alma…”.
Acredito que todos nós temos experiências no sentido terapêutico da música. Na própria História da Música, em uma das principais óperas já compostas, A Flauta Mágica de Mozart, o som da flauta acalmava até as feras.
No entanto, a raiz da musicoterapia parece estar relacionada ao herói grego Orfeu, como nos aponta André Balboni em seu fantástico livro Sopro das Musas: “Ele representa a virtude do músico e poeta por excelência”. Citando Pierre Grimal, Balboni nos informa que “Orfeu canta melodias tão fabulosas ao som da lira, que até os homens brutos e os animais selvagens se acalmam e o seguem, enquanto as árvores se curvam quando ele passa com sua presença musical”.
A história mais célebre de Orfeu é a que envolve seu amor por Eurídice. Em resumo, após a morte da amada, Orfeu clama aos deuses para que possa adentrar no Hades (a casa dos mortos) e recuperar sua amada. Usando a música como “arma”, ele consegue o feito. Dessa forma, Orfeu consegue libertá-la, porém com a condição de não olhar para a amada enquanto a resgata. No final da jornada, em meio a tantas provas, Orfeu não resiste e lança um olhar sobre Eurídice para verificar se a mesma ainda está viva.
Esse enredo inspirou diversos compositores a escreverem óperas sobre tal mito. Aquela que é considerada a primeira ópera da História da Música, Orfeo de Monteverdi (1607), por exemplo, é baseada nessa história. O compositor Glück, no século XVIII, é conhecido por sua significativa reforma na ópera. E qual o título de sua ópera que representa um marco dessa reforma? Orfeu e Eurídice.
No concerto de domingo, a Orquestra irá apresentar um trecho dessa ópera (como a ópera é, geralmente, uma música bastante longa, como um “teatro cantado”, esse é um pequeno trecho instrumental presente na ópera “Orfeu e Eurídice”). Tal trecho é parte de uma cena terna em que Orfeu recebe permissão para entrar no Hades. Ao adentrar o “mundo dos mortos”, ele tem a oportunidade de ver novamente sua amada Eurídice no “vale dos abençoados”, um lugar idílico onde os bons espíritos encontram descanso.
Retratando essa atmosfera, Gluck compôs um minueto (uma dança) com flauta e cordas para essa primeira parte. A parte central da cena é um belíssimo solo de flauta, acompanhado pelas cordas da orquestra, descrevendo a paz e tranquilidade dos Campos Elísios. De acordo com alguns estudiosos, a melodia evocativa reflete perfeitamente a tristeza e o profundo pesar de Orfeu pela perda de Eurídice.
Será uma alegria apresentar essa música com a Orquestra, ocasião onde terei uma emoção especial por tocar com minha primeira professora, Leonilda Silva, violoncelista da orquestra. Leonilda é responsável pela formação humana e musical de vários Varginhenses. Destaco, no campo profissional da música, vários de seus alunos, como o Rafael Ribeiro, a Júlia Tempesta, a Aline Sousa, o André Siqueira, a Vânia Garcia, o Rafael Perrota, dentre outros.
Agradeço imensamente o convite feito pelo Maestro Cassiano Maçaneiro, e desejo sucessos à Orquestra, veículo que, através da música, pode transformar uma sociedade.
Nos vemos lá!