Elói Mendes tem umas 10.000 casas. Se todas elas fecham, pelo menos, 5 janelas por dia, são 50.000 fechadas de janela por dia. Em um ano, seriam mais de 18 milhões de fechadas de janela. E eu poderia apostar que a única fechada de janela de toda a cidade a prender um morcego no meio foi a minha, na última quarta-feira.
Um terço da chance de se ganhar na mega-sena. Agora, se pensarmos nas janelas fechando em todo o Brasil, daria para ganhar na mega-sena uma porção de vezes antes que esse feito se repita.
Gosto de imaginar que tenha pego ele no meio do voo. Mas, claro, naquela hora da noite, quando ela me pediu pra fechar a janela por causa da chuva, o mais verossímil é que o morcego estivesse ali dependurado e, pego de surpresa, foi caindo com o movimento da janela até ficar preso.
O fato é que não vi o feito. Assustei com a barulheira. Fiquei com medo de ser um besouro ali fazendo aquele barulhão na janela. Imagina. Um besouro assusta. Agora pensa a correria da família toda, naquela madrugada. O horror.
Fiz o que qualquer outro cidadão faria: perguntei pro Google. As respostas variaram em três caminhos. Chamar a vigilância sanitária, setor de zoonoses ou qualquer coisa assim. Abrir a janela e deixar que ele fosse embora. E, por fim, se tratava de um símbolo de coragem e força interior, que me inspiraria a enfrentar os medos e a explorar o lado misterioso da vida.
Nem vou entrar nos detalhes de que apareceu outro(s) morcego(s), nos fechamos em outros cômodos até o dia amanhecer, nem os detalhes do que aconteceu quando descobri que a vigilância sanitária não viria, nem que eu poderia ser preso (6 meses e multa) se confessasse aqui o assassinato dos bichos embora os bichos tragam doenças que podem matar a gente. Enfim, a vida é feita de desafios.
Mas eu, definitivamente, não fiquei inspirado a explorar o lado misterioso da vida. Sequer fui encorajado a enfrentar meus temores e vou manter meus medos de animais exatamente onde estavam antes do acontecido.
Só me chateia uma coisa: tem uma crônica minha sobre desejos de ano novo, onde eu falo sobre a vontade de ter uma história “única” pra contar… Vai ver a gente deve ser mais específico com os desejos que tem…