– Quando o lixeiro passa sábado de manhã, depois ele volta só na terça, né? Desde aquela época era assim.
– Lá vem com suas histórias…
– Só que a faxina do vizinho era no sábado à tarde. Então ele tirava o lixo dele e colocava no cesto da minha casa. E eu tinha que ficar 3 dias com o lixo de outra pessoa na porta da minha casa, entende?
– E sofrendo, eu imagino…
– Na segunda semana, peguei o lixo e coloquei de volta, em frente a casa dele.
– Problema resolvido!
– Que nada, na terceira semana estava lá de novo. Mas foi a última. Aí peguei uma serrinha e ranquei o cesto de lixo!
– 😱
– Quando encerrei o aluguel tive que pagar outro cesto… e caro.
– Mas por que isso agora?
– A história é cíclica, eu acho…
•••
– E no ônibus? É bonito que as pessoas gostam de compartilhar, né?
– ???
– Fone de ouvido pra quê? Sujeito vem compartilhando sua playlist a viagem inteira.
– Ah, pára co’isso. Música não incomoda. Faz bem pra alma…
– Varia de música e varia de alma, né? E público e privado tem limites definidos.
– Como assim?
– Se eu pegar uma caixa de som e ligar no meio da praça é bem provável que a guarda municipal venha intervir. Questionar se eu tenho alvará. Que eu não posso pensar que ali é meu quintal…
– E claro que não é, né?
– Então… mas se um boteco chique espalha as mesas ali, cobra couvert pelo cantor lá da praça, está tudo certo. Quem se importa se isso incomoda vizinho? Que outras pessoas queiram sentar no banco público da praça?
– E onde isso acontece?
– Vai falar que você não sabe?!
– …
– …
– Eu vejo a vida pior no futuro…
– Eu vejo isso no buraco da fechadura:
– De hipocrisia…
