No dia 19/11/2010 este jornalista passou a ocupar a Cadeira 14 da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências (AVLAC).
Para ser aceito, redigi e li relato da alta figura de Luiz José Álvares Rubião, patrono da Cadeira 14, da qual, a partir daquele dia passei a ocupar, com muito orgulho.
Em seguida, li discurso sobre o primeiro ocupante da Cadeira 14, Dr. Manuel Rodrigues de Souza. E passo a compartilhar com os leitores. Boa leitura!
“Neste momento passo a saudar o primeiro ocupante da Cadeira 14, Dr. Manuel Rodrigues de Souza. Dr. Manuel fundou a Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências. Daí parte a responsabilidade que me foi incumbida em continuar, da melhor forma que puder, os trabalhos do acadêmico.
Dr. Manuel nasceu em Santa Isabel, Portugal, em 29/maio/1892. A República ainda era uma criança, com apenas 10 anos. Varginha engatinhava. Havia se transformado administrativa e politicamente em cidade há apenas 4 anos.
Dr. Manuel Rodrigues de Souza veio para o Brasil com seis meses de idade, filho de Antonio Rodrigues de Souza e Ana Rodrigues de Souza. Naturalizou-se brasileiro em 17 de dezembro de 1915. Graduou-se como médico na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro dez dias depois.
A situação como voltou a Varginha, após formado, mostra a precariedade dos primeiros tempos de nossa cidade. Eram raros médicos formados em instituição de ensino, naquela época. Socorriam os doentes os médicos práticos. Dr. Manuel foi recebido com festa na estação ferroviária, com direito a fogos e banda de música. Foi saudado pessoalmente, na estação, pelo então prefeito de Varginha, Afonso de Oliveira Castro.
Durante o período em que estudou Medicina, Dr. Manuel Rodrigues de Souza escreveu um livro, em 1912, “Contos e Crônicas”. Não abandonou a veia literária, depois de formado. Escreveu pelo menos duas das mais importantes obras da literatura médica: “Inversão dos reflexos” e “Diatermaterapia Coaguladora”. Este último mereceu citação de um professor francês Bordier de Lino, pela “grande contribuição ao estudo da terapia do câncer”.
Dr. Manuel Rodrigues de Souza casou-se com Olga Figueiredo Frota em 1916. Juntos, tiveram Aloysio (falecido precocemente aos seis anos de idade) e Maria Léa Rodrigues de Souza.
Aqui damos um pulo no tempo. 3 de maio de 1933, o primeiro pleito eleitoral da Nova República. Os varginhenses comemoravam o voto secreto, uma inovação naquela eleição. O jornal O Sul-Mineiro celebra “o voto secreto, sem perseguições e vinganças comuns até há pouco”. A cédula, de 17 x 23 cm, poderia ser feita pelo próprio eleitor, desde que trouxesse os nomes dos candidatos, datilografados, impressos ou mimeografados. Para votar o eleitor ganhava uma senha e aguardava ser chamado. Pela primeira vez o eleitor ficava sozinho na urna, onde tinha um minuto para votar.
Dr. Manuel era segundo tenente do Exército Nacional, em um período denso da história da Nova República. Era o Movimento Integralista, contra a revolução proletária no Brasil. As manchetes dos jornais de Varginha, à época, traziam notícias tensas. Os jornais de Varginha pediam o alistamento dos moradores, para “esmagar os vizinhos paulistas”, como traz o Arauto do Sul de 1934.
Em meio a esse cenário carregado, Dr. Manuel Rodrigues elegeu-se deputado estadual e 5º suplente de deputado à Assembleia Constituinte Federal em 1934. Enquanto deputado, chegou a sofrer um atentado, quando se dirigia a Carmo da Cachoeira. Um pontilhão foi derrubado. Ao parar o carro que ele mesmo dirigia, recebeu tiros. Respondeu atirando (pelo jeito os políticos, naquela época, eram mais brigadores). Um segundo carro chegou em seguida, pouco depois o delegado da cidade e todos voltaram para Varginha. Nunca se descobriu quem foi o autor dos disparos.
Com o advento do Estado Novo, em 1937, Dr. Manuel Rodrigues de Souza foi nomeado interventor municipal pelo governador Benedito Valadares, sucedendo Dr. Jacy de Figueiredo. Foi a primeira nomeação em Minas Gerais.
Governou Varginha no período de 1937 a 1944. Naquele período uma das maiores necessidades de Varginha era adaptar o fornecimento de água potável de forma adequada para a população. Entre suas principais ações, está a captação de água dos Cunhas, ampliando o fornecimento de água potável de 1 milhão de litros por dia para 2,7 milhões de litros por dia. Varginha tinha 15.000 habitantes. Para esta obra, foram adquiridos 105 alqueires de terra, no local onde hoje é a rua Dr. José Bíscaro –e onde fica a Subestação da Copasa.
Dr. Manuel Rodrigues de Souza construiu, também, o reservatório da Praça Getúlio Vargas, onde hoje está a elevatória da Copasa, sobre a nave do ET.
Coordenou a construção da Praça de Esportes do Estado, o Varginha Tênis Clube, sendo seu primeiro presidente.
Fora do âmbito político, teve intensa atuação na medicina. Era membro da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro; da Associação Médica de Minas Gerais; era vice-diretor e cirurgião substituto do Instituto Sul Mineiro de Medicina de Varginha; Fundou a Revista Cirurgia Médica, editada em Varginha.
Era membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais; membro correspondente da Academia Sul Mineira de Letras da cidade de Campanha e fundador da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências (AVLAC). Presidiu a Academia por três mandatos sucessivos, de 1960 a 1965, sendo substituído, no quarto mandato, por Dr. João Eugênio do Prado. Também foi presidente, novamente, por mais três mandatos, de 1968 a 1973. É importante frisar que, naquela época, o estatuto da Academia permitia a reeleição do presidente.
Em 1967 ingressou nos quadros da Faculdade de Direito de Varginha (Fadiva), como professor da cadeira de Medicina legal.
Faleceu aos 95 anos”.
Uma resposta
Belíssimo relato histórico 🙏🙏👏🏻👏🏻👏🏻
NOTA DO BLOG: Obrigado Aniel, fico lisonjeado pelo elogio e por tê-lo como leitor do blog.