– Que tá comendo aí, Malemá?
– Pé-de-moleque. Aceita? Custa sessenta reais. Mas pra você que é meu amigo, só hoje, te vendo por doze.
– Doze reais num pé-de-moleque, Malemá?
– São oitenta porcento de desconto, Bom Só!
– Tô vendo… Mas dá um pedaço aqui e me conta qual é a maldade do dia?
– Técnicas de venda, meu caro! Infalíveis. Estão soltas por aí…
– Gostei do “só hoje”.
– Pois é. A urgência. Ninguém pode perder uma oportunidade de comprar o que não precisa.
– E “só pra você” também é ótimo.
– Quem não quer se sentir único, né não?
– Mas será que isso funciona, Malemá?
– Uai, alguém deve colecionar umas planilhas pra provar que sim, mas tenho minhas dúvidas. Pra mim, a coisa funciona assim: você vende um serviço ou produto que as pessoas precisam. Pronto.
– E nem precisa fazer propaganda?
– Claro que precisa. Você precisa dizer: eu existo, conheça meu bom preço e confira minha qualidade.
– E se não der certo, Malemá?
– Uai… ou você não disse pras pessoas certas, ou teu concorrente tem um preço melhor, ou conferiram que tua qualidade é meio duvidosa.
– Pessoal gosta de “gestão de leads”, Malemá.
– Isso é pra quem precisa mostrar que está trabalhando, que tem números para justificar sua função intangível ou quer vender cursos e palestras com essas bobagens.
– É…
– Sabe a técnica que mais me irrita? Quando o vendedor já viu que a prosinha não vai render e tenta a última cartada, tentando apelar para as autoestimas titubeantes…
– Ou seja, noventa porcento da população…
– Isso: eles vão saindo com o “É. Isso não é pro seu bico mesmo. Só os melhores compram meu produto.”
– E, de repente, ali assinam um contrato novo, Malemá…
– Pior que sim. Mas, até aí, tudo bem. São todos grandinhos e se resolvem como quiserem. O que me deixou mais assustado mesmo, foi quando o médico – médico de doença mesmo, não de procedimentos estéticos – usou suas técnicas de venda na consulta. Ali, definivamente, era o pior lugar do mundo pra uma brincadeira dessas…
– Então a dica é: foge de médico que fez cursinho de marketing…
–
–
– “Eles querem te vender. Eles querem te comprar.
– Querem te matar a sede. Eles querem te sedar…”