Hoje, muitos líderes se mostram inquietos diante das novas gerações no mercado de trabalho, especialmente a geração Z.
Reclamações como “eles não querem trabalhar como nós”, “não têm o mesmo compromisso” ou “questionam demais as ordens” são cada vez mais comuns. Mas será que esse incômodo é realmente uma novidade?
A busca por liberdade no trabalho é uma constante na história da humanidade — muda o cenário, muda a linguagem, mas o desejo de viver com dignidade, autonomia e tempo livre atravessa os séculos.
Quando olhamos para trás, percebemos que o “grito” por mudanças nas relações de subordinação sempre existiu, cada vez que um novo grupo ousou desafiar as estruturas estabelecidas.
Vamos relembrar alguns momentos:
1. Antiguidade — Escravizados do Egito Antigo
Mesmo sob regime de trabalho forçado, existem registros de greves no Egito. Por volta de 1150 a.C., os artesãos de Deir el-Medina, que construíam os túmulos dos faraós, pararam de trabalhar porque não estavam recebendo sua ração de comida.
Foi uma das primeiras greves da história registrada em papiros.
O que eles queriam? Respeito, justiça e tempo digno de descanso.
2. Idade Média — Servos fugindo para as cidades
Durante o feudalismo, os servos eram presos à terra. Mas a partir do século XI, muitos começaram a fugir para as cidades, onde podiam trabalhar como artesãos ou comerciantes. Surgiu o ditado:
“O ar da cidade liberta.”
O que eles queriam? Escapar da servidão e construir sua própria vida.
3. Revolução Industrial — Operários e sindicatos
Com jornadas de até 16 horas, inclusive para crianças, os trabalhadores das fábricas do século XIX começaram a se organizar. Em 1886, nos EUA, greves exigindo a jornada de 8 horas culminaram no episódio de Haymarket, em Chicago — que daria origem ao Dia do Trabalhador (1º de Maio).
O que eles queriam? Tempo livre, segurança e condições mínimas para viver.
4. Século XX — Trabalhadores urbanos e leis trabalhistas
Com a urbanização e a força dos movimentos sindicais, vieram conquistas como férias, 13º, aposentadoria e a CLT (no Brasil, em 1943).
O que eles queriam? Direitos reconhecidos e segurança para suas famílias.
5. Século XXI — A geração Z e o trabalho com propósito
Hoje, muitos jovens da geração Z estão recusando empregos tradicionais, empreendendo digitalmente, trabalhando remotamente e buscando trabalhos com mais flexibilidade, propósito e bem-estar emocional.
O que eles querem? Autonomia, propósito e qualidade de vida.
A Fórmula Para se Adaptar: Estoure a Bolha
Em todas essas transições, o maior erro dos líderes foi resistir à mudança ao invés de compreendê-la.
O incômodo que muitos sentem hoje frente às novas gerações é, na verdade, um convite para estourar a bolha — de velhas práticas, crenças rígidas e modelos ultrapassados de gestão.
Adaptar-se não é abrir mão de resultados, mas transformar a forma como as relações são construídas no trabalho: com mais diálogo, respeito à individualidade e abertura para novos caminhos.
Quem acolhe essas transformações, ao invés de combatê-las, se torna não só um líder melhor, mas alguém capaz de construir equipes mais inovadoras, resilientes e comprometidas.
Moral da história?
Desde o Egito até o home office, o trabalhador sempre quis a mesma coisa:
ser livre para viver e trabalhar com dignidade.
E cabe aos líderes atuais escolher se serão parte da resistência… ou da renovação.