Quando eu me aposentar, quero ser um daqueles velhinhos que acordam cedo, tomam banho e vão à padaria tomar café. Mas não quero ser igual aos que ficam ali por uma, duas horas, jogando conversa fora. Quero ir, conversar com os atendentes — sempre educados — e ficar observando os clientes. Uns com a cara amarfanhada. A molecada, sempre rindo, pulando pra afastar o frio. As pessoas na fila do pão. Os pais de alunos, torcendo para sair logo dali e entregar o rebento. Os jovens, com a expectativa pelo dia que está começando.
Quando eu me aposentar, com certeza vou continuar esse ritual. Graças a ele conheci as meninas da Padaria Paraíso, por exemplo — uma gracinha.
O mesmo acontece na Padaria Santa Terezinha, pouco antes da Praça São Charbel. Ali, as balconistas também são muito bacanas. E foi onde conheci a melhor manteiga do mundo, feita em São Lourenço. Um dia, comendo pão quentinho, perguntei que manteiga era aquela. Agora só compro lá (tem embalagens de 100g e meio quilo).
Quando passo perto da Minas Adesivos, tomo café na Padaria Floresta. Os ovos mexidos ali são uma delícia. O atendimento também é bom, mas, dependendo do horário, é só: “Bom dia”, “Tudo bem?”.
Vou para os lados da Unifenas? Café na Padaria Petrópolis, do Marquinho, meu xará. É o melhor café com leite (aerado!), e os pães que eles fazem são uma falta de respeito. O interessante é que os clientes são, para mim, de outro lado da cidade — mas você acaba reconhecendo um e outro. Sempre tem alguém que senta pra conversar, falar sobre a cidade, xingar os políticos, reclamar do preço do café, etc.
A Padaria do Ênio (atrás da Cemig, no Alto da Vila Paiva) é outro lugar de visita obrigatório. Bato cartão pelo menos uma vez por semana. A farinha de milho derrubada por cima do pão francês deixa a casca sequinha.
Na Padaria Princesa, pela manhã, sempre encontro uma turma que fica analisando a política. Gente bacana — infelizmente, perdemos um amigo recentemente.
Varginha tem 142 anos. Desde a época do Império, esse costume continua. São essas rodas de prosa: com políticos, amigos, bicudos, jornalistas falando sobre política. Sempre à guisa de um bom cafezinho.
Antes, era na esquina do Clube de Varginha, em frente à Loja A Incendiária.
No Café da Márcia, no alto da Avenida Rio Branco.
E, bem antes, no Pau do Barão — esquina também na Rio Branco —, famoso pelo tronco colocado ali por um dono de buteco, onde todos paravam para ficar sabendo das notícias do dia. Pela manhã, eram os saqueiros, os camaradas, os comerciantes, os trabalhadores. No fim do dia, os “coronéis” vinham reclamar do preço do café e falar de política. Mulher que passasse desacompanhada perto do Pau do Barão ficava falada.
Opa, que bom. Parei de falar de aposentadoria.