A mais nova fórmula do emagrecimento…

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Esses dias, depois de muito tempo sem colocar os pés fora de casa, decidi ir ao mercado.
Na verdade, não estava precisando de nada. Era mesmo só para poder tirar o teto de cima da cabeça e ver o céu.
Não quis chamar UBER e nem mesmo tirar o carro da garagem.
Era necessário andar, perceber as mudanças dos espaços trilhados.
Sou privilegiada. Moro perto de tudo – supermercados, padarias, açougues, quitandas…
Para quem saiu com destino ao mercado, sentei no banco da praça que fica bem em frente à padaria.
O frescor das árvores, num dia quente de sol em final de verão, é propício para divagar… deixar-se mergulhar na brisa fria.
Em tempos corridos, dar o desfruto dos bordejos e ficar sem fazer nada por quase uma hora, ou é coisa de maluco ou de gente que nasceu para ser feliz e compreender que nessa vida não adianta ter pressa para nada. Eu não tenho mais.
E no fluxo, que ia e vinha à minha frente, apareceu o Eduardo, Dudu, como nós sempre o chamamos.
Dudu estudou comigo.
Tínhamos várias coisas em comum nos tempos de adolescência.
Ele estava com sua esposa Marisa. Aliás, Marisa é uma das coisas que tínhamos em comum.
No colégio fomos unidos pela Marisa, que cantava lindamente. Fazíamos um duo, na verdade um trio, porque o Eduardo tocava.
Escrevíamos letras de canções que hoje estão perdidas no tempo.
Eu não reconheci o Dudu e só o identifiquei pela Marisa, que também não reconheci de primeira.
Ela me reconheceu. Acenou fortemente com as mãos. Olhei mais fixamente e depois de um esforço grande e, com a aproximação dos dois, mais uma jovenzinha ao lado, pude constatar que eram meus amigos de anos.
Travamos um diálogo solto, sem grandes informações.
Mesmo assim, sabendo que se tratava de amigos, custei a acreditar que eram eles.
Marisa sempre foi cheinha, de quadris largos e Eduardo não era nada atlético.
Os dois magérrimos e a mocinha que estava junto, que depois soube ser a filha caçula, também um palito andante.
Pensei comigo – nossa, geração saúde. Acho que preciso caminhar mais, puxar uns pesos.
Mas havia algo estranho, que erguia uma barreira desconhecida.
Por que não reconhecia meus amigos? Transformaram-se em ETs? Era uma peça sendo pregada pela minha idade? Mas eu ainda sou jovem…
Não resisti! Rompi o muro que me fazia não compreender o que parecia estranho e fui logo falando:
— Gente, o que aconteceu com vocês? Você está maravilhosa, Marisa! E você Du, parece tão diferente…
Eles sorriram!
Pareciam trigêmeos, mesmo com a idade da menina bem menor do que a deles. Havia algo que os tornavam um só.
Convidei-os para um café, afinal, pensei, se tenho tempo de sobra, eles também têm.
Aceitaram. A padaria era logo ali.
Entramos, sentamos e fomos atendidos e, mesmo assim, eu continuava incomodada.
De repente, num relâmpago, percebi o que estava me cutucando.
Eram os dentes… Os sorrisos branquíssimos… Os três com a mesma boca, o mesmo branco, o mesmo jeito de articular a fala.
O meu café chegou. Eles pediram água. Eu fui logo degustando um pedaço de bolo de cenoura com calda de chocolate e eles na água.
Mais uma vez rompi o muro e fui logo perguntando:
— Não querem um café? Um pedaço de bolo?
Se entreolharam e, voltaram para mim dizendo que não.
A menina, sem rodeios, disse para mim que só comiam em casa e, que, não podiam comer certos alimentos ou bebidas por conta dos dentes.
Quase tive uma cãimbra para segurar a gargalhada típica que sempre solto, em situações estapafúrdias.
Então eram os dentes…
Facetas alvas, mais brancas do que os brancos.
Emagreceram todos por deixarem de comer, de beber… Ficaram bem magros para manter os dentes perfeitos.
Eduardo, meio sem jeito, explicou que alimentos de cores fortes deviam ser evitados.
Sorriso CHICLETÃO!
É isso! Constatei que Dudu era um cinquentão com uma boca de um menino de pouco mais de 18 anos, igual à Marisa e a filha mais nova.
Todos bem magros, por não poderem comer para não manchar os dentes.
Todos os sorrisos iguais. Os dentes todos iguais.
Pois é, família, em que todos usam facetas, permanece unida.
Estavam unidos pelos dentes, pela aparência erguida por uma estética impiedosa.
Passaram quase duas horas relatando como tinha sido a jornada ao consultório do doutor Alessandro Queiroz, dentista famosíssimo, na cidade.
Enquanto falavam eu degustava gulosamente meu bolo lambuzado de calda, bem marrom, e com uma cor bem acentuada da cenoura.
Levantaram, se despediram.
Foram embora mostrando os dentes que, para mim, pareciam ter sido feitos numa única forma e enfiados à força na cavidade bucal dos três.
Eu permaneci, na padaria, por mais um tempo.
Levantei, paguei a conta.
Esqueci do mercado, afinal, não precisava de nada.
Caminhei de volta para casa, pensando que, acabava de descobrir mais uma nova fórmula de se emagrecer – basta colocar facetas dentárias imaculadamente alvas.
Até os sorrisos não são mais naturais e seguem um padrão, como na moda “Prêt-à-porter”.
Cheguei em casa, olhei-me fixamente no espelho do banheiro. Sorri feito uma louca. Olhei atentamente meus dentes. Escovei-os. Olhei para meu corpo, um pouco acima do peso, ou talvez seria muito acima…
Fiquei na dúvida se fazia um regime ou procurava um dentista para me enfacetar.

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