Não conheço povo mais saudosista do que o sul mineiro. Aqui não se coloca dois quarentões ou quarentonas na mesma mesa sem que comecem os papos sobre a televisão da nossa infância ou à musica de nossa adolescência. Acho que em nenhum outro lugar sobraram tantos fãs de Engenheiros do Havaí – nem mesmo no Rio Grande do Sul!
Eu preferia Paralamas….
Então quando o assunto é comparar com as novas gerações, é unanime, vida de verdade tínhamos nós nos anos 70, 80, 90. Trabalhar aos 13, buscar refrigerante na venda aos dez (como rendia um litro de Coca-Cola naquela época!) brincar na rua aos oito anos. Que criança faz dessas coisas hoje em dia!
Claro algumas poucas ainda fazem, mas cada vez menos. Quando você viu um menino vendendo picolé pela última vez?
Pior para as crianças. Mas todo mundo entende o que mudou. Naquele tempo, tínhamos mais irmãos, e tínhamos donas de casa varrendo calçada. Tínhamos o habito das crianças brincarem na porta de casa, então cada criança ao pôr o pé na rua encontrava-se com seu bandinho em minutos. No meu caso, sabia que bastava subir a Rio Branco que sábado pela manhã ia encontrar algum colega lendo gibi do Homem-Aranha recém comprado na banca do “japonês”. Mas já não era uma infância barata.
No tempo dos nossos avós todo mundo tinha sua dúzia de filhos criados com angu e muito mais liberdade, mas todo mundo sabia que muitas crianças jamais chegariam a ser jovens. Pergunte a qualquer idoso quantos irmãos ele perdeu na infância…
Bastava sentar em um daqueles antigos bancos de concreto, sentado no encosto, obviamente o assento era para os pés. Tinha também o futebol, na rua mesmo ou mirando nos bancos do jardim do sapo. Bancos de praça eram os verdadeiros castelos dos reinos juvenis
Hoje ao contrário, na maioria dos bairros, uma criança sozinha na rua, vai encontrar de tudo, menos outras crianças.
Pode até mesmo encontrar loucos fazendo arminha com os dedos, ou pior, portando as de verdade…
E, mais do que nunca, as crianças se tornaram um investimento caro, escola, brinquedos, roupas, nunca foram tão onerosos. É tudo que nos custa caro, vai para o cofre. Faz sentido.
Mas acho que tem gente levando isso longe demais. Gente endinheirada, porque não vejo como o pobre, que cobra por mais creches a cada eleição vai embarcar nessa furada. Pelo contrário, dinheiro que deveria ir pra creches e escolas públicas vai ter que ser gasto fazendo acompanhamento do desenvolvimento do filho da madame. E também checando se essas crianças não estão sendo abusadas…
Negar a um filho que já cresce basicamente sentado na cama, usando o celular, a chance do único convívio social que restou? Do convívio com o diferente e de ter amigos de infância?
Sim, porque Igreja e Shopping, me desculpem os entusiastas, para crianças são só outros cofres, mais redomas.
Inexplicável isso, o homeschooling ganhar tanto destaque em uma geração que vive lamentando a perda da liberdade dos filhos. E depois de uma Pandemia! Onde essas crianças perderam tantas oportunidades típicas da infância e da pré-adolescência. Fora a defasagem educacional que todo pai sabe que rolou, durante dois anos de homeschooling forçado. E isso vai melhorar tirando da escola? Conta outra…
Sou de um tempo em que “criança de apartamento” era uma expressão pejorativa. Lembro quando sai de Varginha e fui pra BH fazer faculdade, quantos colegas, das classes medias de lá, me pareciam despreparados para a vida, jovens sem vivencia, criados em estufa. Eram as tais “crianças de apartamento”. Não por acaso vivemos um déficit de líderes jovens, vendo eleições serem decididas entre projetos ao gosto de velhos. Fico imaginando quantos pais, por excesso de zelo, escolherão fazer de seus filhos algo ainda mais frágil. Espero que essa moda não peque por aqui.
Rodrigo Prado Mudesto só ouve música envelhecida em barris de carvalho.
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Rodrigo você teria toda razão se soubesse o que é homeschooling de verdade, não se trata do que aconteceu na pandemia, nem de longe, as crianças não ficam em computadores e em celulares, elas buscam informações e estudam para aprender e não apenas pra fazer prova, elas amam o conhecimento.. Homeschooling é uma opção de educação, na qual os pais são os professores, da trabalho mas é gratificante, meus filhos tem muito mais socialização hoje, inclusive eles amam e nos pais temos muito mais socialização também. Existem grupos de apoio a famílias homeschoolers e gostaria muito que você tivesse mais informações e postasse novamente.com outra opinião. Sou cinquentona, como você diz, mas hoje a escola e as ruas não são como na nossa época, e por fim, queria dizer que não somos contra a escola e os professores, muito pelo contrário. O Homeschooling é uma opção e não uma obrigatoriedade.. Não é para todas as famílias só as que puderem e desejarem.. Obrigada.
Triste assistir pais lutando para criar seus filhos em gaiolas, cedo ou tarde a vida irá cobrar tudo que cobra de todos, entendi bem o que Rodrigo colocou, um parametro de comparação das crianças criadas brincando na rua, outras em apartamentos, a limitação da vida destas crianças, adolescentes agarradas aos pais, e aquelas sem oportunidade de ter os pais para ensinar? Um dia irão encontrar, e os filhos do homeschooling vão aprender o quanto de liberdade perderam, e recuperar o tempo do jeito deles, o futuro virá. “Vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ansia da vida por si mesmos” Khalil Gibran.
Conheço bons cursos de escrita.
Meus filhos que estudam em casa podem te ajudar também.
Assim como você, gosto de conhaque e meu filho ama sorvete.
Abraço.