O ponto de partida do texto de hoje é a palavra encantamento. Vou narrar uma experiência na qual acredito que muitos de nós, Varginhenses, tivemos com relação a encantamento e música. Encantar pode significar, entre outros, admirar, deslumbrar, ter grande prazer com relação ao que se ouve. Na prática, algo que encanta pode nos conduzir a uma outra realidade, inclusive pelo caminho emocional. Dessa forma, a música pode ser um canal de “encantar”.
Exemplifico por aqui uma linda cena de encantamento no maravilhoso filme “Peixe Grande e suas histórias maravilhosas”. Trata-se do momento em que o protagonista avista, pela primeira vez, o grande amor de sua vida. O mundo pára. Ele ficou absolutamente encantado. O diretor (Tim Burton) demonstra ao espectador a força desse encantamento ao trocar a música, conferindo um novo clima de sensibilidade à cena.
A experiência de encantamento que creio termos passado aqui em Varginha (eu posso afirmar que passei essa experiência!), também envolve a sétima arte e a música, sem se tratar especificamente de uma cena de filme. Trata-se daquele mágico momento em que ficávamos aguardando o início de um filme no Cine Rio Branco.
Sentados nas poltronas, olhávamos aquela tela, enquanto o quadro de flores na lateral revelava cores diferentes, ao som de uma música encantadora (Nocturne de Paul Mauriat). Os climas revelados pela música contribuem para a sensação de encantamento: o belo tema inicia com o piano (após uma introdução de arpejos), enquanto as cordas (violinos, violas, violoncelos e contrabaixos) sustentam acordes; quando o tema é reapresentado, as cordas passam a se movimentar em contracantos.
A entrada do tímpano e trompas confere algo de poderoso à música, que logo retorna ao clima mais calmo do início (tema no piano, reforçado pelo diálogo com as cordas). Após um anúncio nas trompas, as cordas fazem um movimento ascendente, preparando a entrada da bateria. Nesse momento, a música segue uma pulsação estática criada pela bateria, enquanto as cordas continuam o diálogo com o tema do piano. As trompas interferem em contracantos, ao que se prepara para retornar à nuance mais calma (quando já não há a bateria), preparando o encerramento da música.
Creio que a experiência com essa música sensibilizou muitos de nós, pois como diria Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno”.
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“Velhos tempos, belos dias!”