Emoção. Um despertar de sentimentos.
A música enquanto arte, como eu já escrevi em um artigo anterior, tem sim o papel de estimular o pensamento de uma sociedade e em alguns casos, até mesmo de escandalizar.
Mas entendo como principal função, a nobreza dessa arte, a capacidade de lidar com sentimentos.
A música pode despertar no ouvinte emoções pessoais, únicas. Acontece o gosto por uma experiência estética, o encontro com o “belo”.
E esse encontro mágico, entremeio de apreciação e degustação, pode se expandir a partir do momento em que a música sobrepõe a finalidade para qual foi criada.
Vou contar-lhes um exemplo. Em um dos artigos recentes, comentei sobre o “quarteirão cultural” da nossa querida cidade. Pois esse exemplo aconteceu em duas dessas construções.
No início doas anos 90, assisti com minha vó (a saudosa Vó Martha) o filme “Dança com lobos” no cine Rio Branco. Pouco tempo depois me apresentei no Teatro Capitólio, junto ao amigo Wilke Lahmann, interpretando a “Sicilienne”, do compositor Gabriel Fauré.
Terminada a apresentação, minha vó se aproximou de mim e disse: “Alexandre, que música linda. Me transportou a algumas cenas que vimos no “Dança com lobos”. Cenas de um vasto campo. À medida que você tocava, a música despertou uma “dança” em mim… parecia os ventos soprando sobre esse campo…”
A música conduziu minha vó a uma experiência pessoal, poética. Ela associou os sons que acabara de ouvir a uma outra manifestação artística recentemente experimentada.
Com isso, percebi a capacidade que a música tem em nos transportar a experiências fantásticas, independente do tempo e da finalidade para qual foi composta!
O “Sicilienne” faz parte de uma suíte que Fauré* compôs em 1898 para uma peça teatral (o que conhecemos como “música incidental” – uma música composta para uma produção dramática, como filme ou peça de teatro).
Sim, pois a música é uma arte que é recriada a todo momento, basta que seja executada.
E a cada nova execução, ela desperta emoções diferentes em quem a ouve…e um desse despertar de emoções aconteceu no início dos anos 90 em um teatro de uma cidade do interior de Minas Gerais, quando ao ser reapresentada, uma música composta em 1898 fez parte de uma história entre avó e neto.
• Convido o leitor a conhecer a suíte na qual o Sicilienne faz parte. Trata-se da Suíte “Pelléas et Mélissande”, op.80, composta pelo francês Gabriel Fauré para uma peça de Maeterlinck.