Ela bem que disse que não queria ir. Ele que aguentasse as reclamações agora. Onde já se viu? Assistir campeonato de futebol de botão? Haja paciência, né? Com narrador e comentarista ainda!
– Calma, Doralice, tô na semifinal!
E a moça lá, com um copo de Coca–Cola esquentando na mão. Se ele fizesse de novo um coração com a ponta dos dedos depois do gol, ela iria embora. Ah, se ia. Melhor que perdesse logo. E pensar que ela não via a hora de chegar o sábado para sair de casa.
– Tiro o Renato, ponho o uruguaio aqui na ponta esquerda e ninguém me segura! Se prepara, Doralice: hoje a gente vê o Mengo sê campeão…
Era o que faltava. Unha pintada, tinta nova no cabelo e abandonada perto da bandeira de escanteio.
– Licença, licença. Córner para mim. Não mexe no goleiro!
Aonde foi que ela amarrou seu burro? As amigas lá, cheias de histórias para contar sobre o fim de semana e ela ali, vendo a bolinha bater, emocionantemente, na trave esquerda.
– Tô chegando, tô chegando lá!
Ele que ousasse agora reclamar do almoço na casa da Tia Aurora no domingo. Queria só ver. Depois de um sábado desses, ele estava devendo, pelo menos, uns três meses de almoço na casa da Tia Aurora.
– Pênalti, não! Prorrogação, pô. Prorrogação! Quem botou as regras aqui? Ih, tá virando bagunça, Doralice…
Ela finalmente encontrou um lugar para sentar quando o pessoal levantou para assistir a disputa. Estava cinco a quatro para eles, quando o camisa 10, que já tinha sido chamado de Zico nos anos oitenta, Nélio nos noventa e agora… quem que é dez do Mengo mesmo? Então, ele bateu e a bola, por capricho, foi parar lá no colo da Doralice que, pelo silêncio que ficou na sala, se arrependeu de ter torcido contra e voltou toda carinhosa para casa. Mas uma derrota doída daquelas não se consola.
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