Bené Apanharildo e Maria Batinalda eram casados há um bom tempo. Ao contrário dos demais casais da época não era ele quem mandava em casa. Era ela.
Bené era um sujeito de estatura média, pescoço curto, de poucos cabelos; parecia que nunca havia sorrido, seu rosto apesar de não ter chegado aos quarenta, estava cheio de rugas profundas de um envelhecimento precoce da pele, talvez por haver exposto demasiadamente ao sol devido seu trabalho como servente de pedreiro.
Já Maria era oposta; alta, cheia de corpo, cintura fina, os quadris bem torneados e um busto de linhas perfeitas. Os olhos eram tão negros que pareciam jabuticaba madura, os cabelos sempre eram presos no alto da cabeça. Muito bonita. Talvez por estas qualidades, seria sem dúvida a manda-chuva da casa.
Apanharildo tinha poucos amigos devido à vida conjugal que levava; tinha vergonha do que escutava da vizinhança, quando chamado de frouxo. Até as esposas de outros maridos não concordavam com a maneira dela agir com o marido; era ela quem dava as ordens dentro e fora de casa. O coitado, não apitava nada.
Certa vez, ao pé do ouvido, um amigo falou a Bené que estava na hora de mudar, era ele quem tinha de ser o chefe da casa, pois era ele quem dava duro de sol a sol, levava o dinheiro; por isso, era ele quem devia tomar as rédeas e soltar das garras da mulher. Deveria passar no boteco, molhar a garganta e comer um tira-gosto, como todos os homens trabalhadores faziam. Aquilo mexeu com a cabeça do marido.
Resolveu seguir o conselho. Passou a frequentar o bar perto de sua casa. Tomava uma cachaça, comia um pé de porco com farinha de mandioca e seguia pra casa.
De uma cachaça passou para duas, de duas para três, até que um dia encheu a cara e foi tonto para casa. Nesse dia o pau quebrou, mas quebrou mesmo. Maria não permitia nunca que Bené mudasse o comportamento.
Apanhou tanto, mas tanto, que seu rosto ficou cheio de hematomas. Quando saiu de casa três dias depois da surra, um amigo perguntou? Aquele não é o Bené? Será?


















