— Opa. Olha só quem me toca a campainha! Quanto tempo, rapaz!
— Desde sei lá… você nem tinha tanto cabelo. E com bebê no colo! Que bênção… Vou incomodar, não. Só vim trazer seu convite.
— Meu não, né? Seu convite. Coisa boa. Gosto de amigo casando. E tradicional. Olha as iniciais de vocês aqui: entrelaçando uma na outra.
— Não é? Pessoal hoje tem usado uma letrinha sóbria, um traço separando…
— Novos tempos, cada um no seu quadrado, preservando as individualidades…
— Se não é pra misturá, nem num casa, né?
— É… Jerê, não deve estar nada fácil, né? Antigamente fazia o convite e pronto. Hoje tem identidade visual, manual de madrinha, gravata de padrinho…
— Imagina só: enteada do meu tio — pensa bem — tinha preparado tudo: ornamentação, papelaria completa, cor do vestido das madrinhas, comidas típicas. De repente parou, olhou: o noivo não estava combinando muito. Barba muito desenhadinha. Queria uma coisa mais rústica. Não dava pra refazer a festa toda. Trocou de noivo.
— Acontece. Mas você aí, entregando convite, deve estar dentro do planejamento, pelo jeito…
— A princípio, sim. Mas as coisas mudam muito…
— Nem tudo piora… Veja que, na minha época, se podia cantar na Igreja qualquer música. Tinha uma cantora, renomada, repertório eclético, cantava muito o “lovóf’mailaive” do Queen. Interpretação lindíssima. Estranho que ninguém nunca tenha questionado que logo na primeira estrofe da música o ‘amor da vida’ já tinha magoado, quebrado o coração e ido embora.
— Uai, às vezes identificava com o casal, vai saber… mas, hoje, só música de amor com Deus no meio.
— Justo. Não sei se tem amor de outra maneira…
— É… porque não é fácil… mas falta um mês só e já passa. Tudo tranquilo.
— Ih. meu amigo, não conte com isso… Depois chega chá de revelação, apresentação de fim de ano na escola e o aniversário dos coleguinhas… Rapaz, você não tem ideia da quantidade de lembrancinha que tem que levar pra casa no final de uma festa: mochilão surpresa, balde de pipoca doce, copo stanley personalizado, caneca, taco de golfe… Tudo recheado com o catálogo completo de balas e doces da Embapel.
— Falta só um contrato do plano odontológico… hehe… mas teu bebê aí tá pequenininho. Não tem nada disso ainda, não…
— Este aqui? Não! É meu filho, não. É que ontem teve uma festa dessas. O neném veio junto com as lembrancinhas… Acho que é Isaque o nome dele. Bonzinho toda vida. Dorme no colo, olha só…
Fazia tempo que não, mas essa merece compartilhar. Aperta aí, vai.





















